sábado, 23 de maio de 2009


Flymetothemoon, mais uma aula de Venâncio Nahid

O saudoso treinador, Alberto Nahid, patriarca de uma família de especialistas na arte de treinar puros-sangues, sempre me dizia que a maior qualidade de quem prepara cavalos para competir é a sensibilidade. Quando dei os meus primeiros passos no turfe, na profissão de repórter do Jornal do Brasil, percebi logo que esta qualidade, por ele ressaltada, sobrava nos seus dois filhos, Roberto e Venâncio Nahid. E o tempo tratou de provar com resultados incontestáveis a capacidade de ambos.

Venâncio Nahid, o popular Neném, por ser o filho mais novo, aprendeu no dia a dia, na raia e na cocheira, sob o rigoroso olhar crítico de seu Alberto. Era um homem de grande coração, mas com um gênio para lá de estourado. O temperamento forte também foi passado para Roberto e Venâncio e já era cena comum, no prado, eles discutirem entre eles. Algumas vezes seu Alberto criticava um dos dois filhos, outras, eles próprios se desentendiam. E muitas vezes conseguiam bater boca os três ao mesmo tempo. O pavio curto deles, entretanto, nunca impediu que fossem sempre unidos. E desentender-se com um era comprar briga com os três.

Neném sempre foi observador, detalhista e muito trabalhador. Com a maturidade somada a uma incrível capacidade de organizar-se e unir sua equipe de trabalho, colheu sempre grandes frutos na profissão. Cansei de ouvir do recordista mundial, Jorge Ricardo, rasgados elogios a ele. “Este Venâncio é um treinador fantástico. Ele tem a medida certa dos exercícios de raia e sempre consegue montar retaguarda forte na cocheira. Adoro montar para ele“. Na época em que trabalhei como agente de montarias, Ricardo sempre me alertava. “Não barra os cavalos do Neném sem falar comigo. E do Robertinho também não. Devo muito a família Nahid o sucesso na minha carreira’’, repetia sempre.

Neste domingo, Jorge Ricardo ouviu a transmissão do Grande Prêmio São Paulo pelo rádio. Ficou feliz pela vitória de Venâncio, mas lamentou não estar junto com ele na fotografia. Relembrou o acidente no Latino-Americano, quando caiu do dorso de Flymetothemoon. “Foi à pior rodada da minha vida. Ou pelo menos a que me custou mais caro. Deixei de ganhar pela sexta vez a prova e o GP São Paulo pela terceira vez. Mas o Neném merece tudo de bom e ficou feliz por ele”, falou resignado.

Aos 48 anos, Venâncio adquiriu experiência necessária para saber quando você tem um craque nas mãos e a sensibilidade para inscrevê-lo nos páreos certos. Lembro-me quando o treinador deixou de inscrever É Isso Aí, potranca de qualidade do Haras Doce Vale, numa prova importante, para que ela fosse direto ao Grande Prêmio Diana. O resultado também foi o triunfo montada por Dalto Duarte. Desta vez repetiu a dose. Depois da queda de Flymetothemoon no Latino-Americano, o treinador optou por deixá-lo de fora do Derby e decidiu apostar todas as fichas no GP São Paulo. Outra vitória de um filho de Onefortheroad, craque também vitoriosa em Cidade Jardim no GP Diana, a exemplo da filha, É Isso Aí. Nada no turfe é por acaso. E o currículo de Venâncio Nahid possui praticamente todas as provas importantes do calendário nacional.

Flymetothemoon, segundo o seu treinador, deve permanecer no Brasil, para disputar, em agosto, no Hipódromo da Gávea, a maior prova do turfe nacional. Neném pretende estudar com critério se vai correr ou não uma prova preparatória, mas a principio acha melhor Flymetothemoon atuar direto ao Grande Prêmio Brasil. O filho de Roi Normand já demonstrou que se apronta rápido, nos treinos, sem a necessidade de uma carreira. A respeito da vitória de domingo, Neném preferiu elogiar a direção de Waldomiro Blandi, perfeita, segundo ele.

“O Blandi me disse que quando passou o chicote para a canhota para começar a exigir dele, Flymetothemoon largou dali, como se os outros estivessem parados. Gostei muito do desempenho dele. Mostrou ser um profissional de alto gabarito. E o que dizer do cavalo. É um craque e se mantiver o estado atlético vai dar trabalho em agosto”, sonha.

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