quinta-feira, 23 de julho de 2009







Juvenal e Jorge Ricardo, justa homenagem no GP Brasil

O Grande Prêmio Brasil deste ano vai homenagear dois dos principais jóqueis brasileiros de todos os tempos: Juvenal Machado da Silva e Jorge Antônio Ricardo. A decisão da diretoria do Jockey Club Brasileiro é das mais justas e oportunas. Juvenal aposentou-se há pouco tempo e mantém a condição de recordista de vitórias na prova, com cinco triunfos, através de Aporé, Gourmet, Grimaldi, Bowling e Flying Finn. Jorge Ricardo ganhou apenas dois, com Falcon Jet e Much Better, mas perdeu outros dois para o próprio Juvenal em cima do laço em dois duelos sensacionais.

Os dois grandes ídolos vivem momentos diferentes. Juvenal sente saudade dos grandes momentos vividos nas pistas, mas está readaptado a vida pacata de Delmiro Gouvêa, interior de Alagoas, aonde têm sua fazenda, algumas cabeças de gado e trabalha duro na lavoura, nas suas plantações. Vai aproveitar a realização do Grande Prêmio Brasil de 2.009, 30 anos depois de sua primeira vitória com Aporé, para o lançamento de um documentário que conta toda sua trajetória desde a chegada ao Rio de Janeiro passando pelas grandes conquistas e a volta a terra natal.

Jorge Ricardo passa pelo momento mais difícil de sua vida. No auge da carreira, logo depois de bater o recorde mundial e conquistar a primeira estatística no turfe argentino, alguns exames revelaram a presença de um linfoma, câncer no sistema linfático. A doença estava controlada desde 2.007 e os exames de sangue até revelaram ligeira regressão. Depois da queda sofrida no Latino-americano, disputado em Cidade Jardim, o jóquei recuperou-se de fratura em uma vértebra e outra na base do crânio. Mas os exames de sangue revelaram a evolução do antigo problema. Ricardo começou a quimioterapia, os médicos estão otimistas, mas a notícia chocou os turfistas brasileiros.

CINCO VEZES JUVENAL

Juvenal Machado da Silva começou a montar na Gávea em 1972. A primeira vitória foi com Eringa, treinada por Felipe Pereira Lavor. Dono de estilo inconfundível, ele possuía perfeito equilíbrio em cima dos cavalos e uma tocada clássica, em perfeita sincronia com os galões dos cavalos. Usava o chicote com as duas mãos e fazia os seus pilotados trocarem de mão inúmeras vezes. Era intuitivo e surpreendente. Tinha perfeita noção do trem de corrida, como se tivesse um relógio na cabeça. Carismático e irreverente conquistou uma legião de fãs e tornou-se imortal com o famoso jargão do locutor Ernani Pires Ferreira: “E lá vem o Juvenal!”.

Juvenal ganhou o primeiro Grande Prêmio Brasil com Aporé, dos Haras São José e Expedictus, em 1979. O jóquei titular da coudelaria Paula Machado, o chileno Gabriel Meneses, preferiu montar Amazon. Aporé tomou a ponta, floreou e levou ao delírio os fãs do jóquei alagoano. Três anos depois, em 1982, Juvenal repetiria à tática que havia dado certo. Montou Gourmet, do Haras Ipiranga, e enquanto os rivais preocupavam-se com o craque argentino New Dandy, ele voltou a ganhar de ponta a ponta. Em 1986, com Grimaldi, de Delmar Biazoli Martins, ele venceria seu terceiro Grande Prêmio Brasil, no primeiro duelo direto com Jorge Ricardo, que montou Bowling, do Haras Santa Ana do Rio Grande. No ano seguinte, Jorge Ricardo preteriu Bowling para montar Bat Masterson, da mesma coudelaria. Juvenal montou Bowling e chegou ao tetra-campeonato. E finalmente, em 1990, Juvenal adiaria mais uma vez o triunfo de Jorge Ricardo. Flying Finn, do Stud Numy, derrotou Falcon Jet, do Haras Santa Ana do Rio Grande, por escassa diferença.

A FORRA DE JORGE RICARDO

Jorge Ricardo montou pela primeira vez em 1976, justamente o ano em que Juvenal, por coincidência, ganhou sua primeira estatística. A primeira vitória foi logo na estréia no dorso de Taim, treinado por seu pai, o ex-jóquei, Antônio Ricardo. Foram seis anos de reinado de Juvenal, mas 1982, num duelo inesquecível, os dois jóqueis chegaram empatados a última reunião da temporada. Ricardo levou a melhor ao vencer seis páreos. Daquele dia em diante, nunca mais perdeu uma estatística na Gávea.

Ricardinho conquistou de forma meteórica o público turfista pela energia, técnica e dedicação. Sempre foi perfeccionista. Trabalhava de forma incansável nos matinais e com isso se transformou no rei do preparo físico. Era difícil derrotá-lo numa reta cabeça com cabeça. Só mesmo se o outro jóquei estivesse com mais cavalo. Sua trajetória lembra muito a de Ayrton Senna no automobilismo. Quebrava recordes em cima de recordes. Em 30 anos de carreira construiu um currículo incomparável, com vitórias em todas as provas importantes da América do Sul.

Até pouco tempo estava no topo do mundo e despertou curiosidade da mídia turfista de outros países. Travou duelo direto com o canadense Russel Baze e o superou. A queda o apanhou de surpresa, em março, quando já estava mais de 70 triunfos a frente do rival. Recuperado das contusões voltou ao trabalho e já se aproximava do recorde mundial. A notícia do linfoma e da interrupção de sua vitoriosa carreira entristeceu a todos. Agora, o turfe brasileiro reza pela sua volta as pistas. Seria a volta do sonho pessoal de Jorge Ricardo. Parar de montar com um número de vitórias impossível de ser alcançado por qualquer outro jóquei em qualquer época.

No Grande Prêmio Brasil, Ricardinho penou para conquistar a primeira vitória. Mas ela veio em grande estilo, em 1992, com Falcon Jet, do Haras Santa Ana do Rio Grande, que livrou cabeça sobre o eterno rival Flying Finn, do Stud Numy, montado por Juvenal Machado da Silva. De baixo de chuva e com raia de grama coberta de lama, Jorge Ricardo finalmente escrevia seu nome a história da prova. Era a revanche sobre Juvenal, que já lhe havia causado tantos dissabores. Dois anos depois, com Much Better, o melhor cavalo que montou em toda sua vida, Ricardo chegaria ao bi-campeonato do páreo mais importante e tradicional do país.

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