quinta-feira, 7 de maio de 2009


À espera de um fenômeno

Qualquer esporte depende dos grandes ídolos para decolar. São eles que embalam as multidões com seus lampejos geniais, com o arrojo permanente e com aquela capacidade de surpreender a todos os mortais que acompanham determinada competição ao vivo ou pela televisão. O final de semana esportivo deixou isto bem claro. No presente, com o título de campeão paulista do Coríntians comandado por Ronaldo Fenômeno, e por capricho, nos fez relembrar, no feriado do Dia do Trabalho, os 15 anos da morte de Ayrton Senna, o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. Na arte do futebol de Ronaldo pudemos concluir o abismo entre o craque e o bom jogador. No `` recuerdo `` daquelas antigas manhãs de domingo com o Senna fizemos um exercício doloroso, mas ao mesmo tempo, encantador para os nossos corações.

No sábado, cheguei por volta das 11h30m na Gávea. Faltava meia hora para o programa Turfe Espetacular. Avistei o turfista Marinho, ex-craque do Milionários, um dos melhores times que já vi jogar no aterro do Flamengo. Há cerca de três meses conversávamos sobre a situação do Ronaldo, ainda gordo, e envolvido com a fisioterapia. Marinho, na ocasião, sentenciou : ´´ Só se for como marketing. Ele não consegue voltar a jogar bola neste ritmo de hoje. Eu rasgo o meu diploma ``, falou convicto. Me lembro apenas de ter dito. `` Cuidado. Não esqueça que o apelido do cara é Fenômeno. E ninguém é chamado assim a troco de nada. Ele já deixou muita gente falando sozinho ``.

Quando o Marinho me viu, não me deu tempo nem para abrir a boca e lhe dar uma encarnada. ´´ Paulo Gama, você tinha razão. O cara é um fenômeno. Ele nem precisa estar no auge da forma física. A diferença dele para os outros é tão grande que ele se destaca ao natural. Parece até o Juvenal ou o Ricardinho no turfe. E o carisma dele é impressionante. Todo mundo torce pelo cara. É uma atmosfera que contagia as multidões ``, exultou.

Em 1994, o grande responsável por esta atmosfera toda especial era Ayrton Senna. Ele parava o país, fazia todo mundo acordar mais cedo para sentir aquele orgulho de ser brasileiro. Mas naquele domingo, o tri-campeão mundial, maior ídolo do esporte nacional, entrou a mil por hora naquela curva fatídica de Ímola. Era dia de Grande Prêmio São Paulo. Much Better, do Stud TNT, defendia grande favoritismo, pois havia ganho o Clássico Latino-americano, dois meses antes, em La Plata, na Argentina. Por coincidência, Ayrton Senna era o maior ídolo também do jóquei e do treinador de Much Better, Jorge Ricardo, e João Luiz Maciel.

Nos reunimos logo cedo para ver a corrida na televisão. Após o acidente, eu, Ricardinho e Maciel nos entreolhávamos desolados, mas com alguma esperança da batida não ter sido fatal. Toca o telefone. O proprietário de Much Better, Gonçalo Torrealba, com experiência de pilotar até Stock Cars, nos prepara para o pior. ´´ Vamos pensar agora na corrida do Much Better. Tudo é possível, mas pela minha experiência, perdemos para sempre o nosso campeão ``, afirmou.

Foi o dia mais triste do Hipódromo de Cidade Jardim. Ninguém olhava para a pista ou para os cavalos. Grupos reunidos, em frente a televisão, a espera de um milagre. Mas este milagre não veio. Pouco antes da realização do Grande Prêmio São Paulo todos já sabiam da morte do extraordinário corredor. Much Better foi lá e fez a sua parte. Ganhou a maior prova do turfe paulista, num ano em que ainda seria ganhador do Grande Prêmio Brasil e do Grande Prêmio Carlos Pelegrinni. A comemoração foi constrangedora. Todos estavam tristes. O público paulista bateu palmas timidamente reconhecendo o campeão, mas o coração de todos estava partido. Me lembro de termos jantado juntos antes voltar para o Rio. Mas a alegria pelo importante triunfo não se comparava com a perda irreparável de toda a nação.

O turfe também teve seus fenômenos. Um deles não tive o privilégio de conhecer no auge, mas a história lhe rende grandes homenagens: Luiz Rigoni. O homem do violino escreveu algumas das mais belas páginas do turfe brasileiro. Acompanhei toda a carreira de outros dois fora de série. O alagoano, Juvenal Machado da Silva, recordista de vitórias no Grande Prêmio Brasil, um fenômeno das rédeas, e agora aposentado. Só está em atividade e no topo do mundo Jorge Ricardo. Infelizmente, o recordista mundial está radicado no turfe argentino. A pista de grama da Gávea ficou maravilhosa, o hipódromo até o dia do Grande Prêmio Brasil vai ficar um brinco e os nossos cavalos são tão bons, que vencem corridas no mundo inteiro. Por aqui, só falta uma coisa. O esportista genial que vai recolocar o turfe na mídia. Só nos resta esperar por um novo fenômeno. Só eles levantam as multidões. Só eles mudam o curso da história. Só eles tornam possível o impossível. Que pena o Alex Mota ter parado de montar...

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