segunda-feira, 22 de junho de 2009







Turfe perde Antônio Domingos Meirelles Quintella

Com o passar dos anos a gente tenta se acostumar com a inexorável sucessão de perdas. Afinal, elas são inevitáveis. Mas quando acontecem descobrimos nunca estarmos realmente preparados. No sábado de manhã recebi a notícia do falecimento do grande advogado, sócio do Jockey Club Brasileiro, criador e proprietário, Antônio Domingos Meirelles Quintella. Eu estava na repesagem, cumprindo a velha rotina de esperar a medida da raia, verificar os forfaits da Gávea e logo em seguida participar do programa “Turfe Espetacular”. Uma grande tristeza me abateu.

O doutor Quintella foi sempre grande incentivador do meu trabalho. Acompanhava as coberturas jornalísticas no Jornal do Brasil, dizia-se fã da minha coluna, aos domingos, e quando fui despedido do jornal, em 2.001, sob alegação de que o turfe não era mais de interesse da editoria de esportes, ficou indignado. Decidiu patrocinar o chamado “Páreo Corrido” na antiga Revista Jockey Club Brasileiro.

Eu trabalhava na TV Turfe, escrevia uma coluna na Revista Turfe Cidade Jardim e tinha dado início à profissão de agentes de montarias no turfe carioca. Mas é claro que havia perdido o meu carro chefe, o JB, e o nobre incentivo do doutor Quintella ajudou-me sob todos os aspectos: financeiro, pessoal e profissional. Era um homem apaixonado pela dignidade. A sua obsessão era a Justiça. E por isso mesmo não conseguia disfarçar sua intolerância com as atitudes mesquinhas. Era crítico ferrenho da arbitrariedade e lutava pelo direito das pessoas de expressar-se em todas as circunstâncias.

Tive a oportunidade de cobrir, para o Jornal do Brasil, a famosa eleição pela presidência do Jockey Club Brasileiro entre Luiz Alfredo Taunay e Julio Bozzano. Naquela oportunidade, doutor Quintella presidiu a mesa de apuração das urnas. Esteve impecável. Manteve com pulso forte a organização do evento, não permitiu qualquer tipo de manifestações impróprias e aceitou a derrota do seu candidato com aquela atitude resignada dos que respeitam a democracia.

Feliz daqueles que privaram do relacionamento com o doutor Quintella no Hipódromo da Gávea. No prado ele esquecia as liminares, os recursos, os tribunais, as petições e até o fórum. Queria torcer pelos seus puros-sangues com aquela linda farda preta com listras verticais verdes e boné verde. Adorava uma prosa. Mas eram conversas rápidas, enquanto deslocava-se do restaurante para o padoque, ou da tribuna para a foto da vitória no winner-circle. Não perdia tempo com papo-furado. Depois de lhe cumprimentar ia direto ao assunto. Era um homem de frases curtas e objetivas e também apreciava respostas neste mesmo ritmo. Talvez, por isso, tínhamos a simpatia mútua entre o advogado e o jornalista.

O velho Quintella fazia questão de vir a minha mesa, estender a mão e me elogiar por alguma crônica que havia gostado. Da mesma maneira, passava ao largo, apenas acenava, e reclamava quando o texto não tinha sido do seu agrado: “Você só descreveu o páreo. Mais nada. Pode fazer coisa melhor. Vamos caprichar para a próxima”, incentivava. No fundo, lá no meu íntimo, eu ficava impressionado com a sua sensibilidade. A gente tem plena consciência quando fez algo bom e da mesma forma tem convicção, em outras oportunidades, que poderia ter escrito um texto melhor.

Agora, a dura realidade. O meu crítico mais elegante e também, o mais exigente, se foi. E fico pensando. Será que consegui fazer justiça nestas mal traçadas linhas ao homem e ao advogado. Espero que sim. Que pena! Ele não vai poder mais me dizer. Meus sinceros pêsames a família. Não pude estar no velório por questões profissionais. O doutor Quintella só poderia nos deixar num dia de corrida. Força para o amigo Quintelinha, turfista apaixonado feito o pai. Tenho certeza que ainda vamos lembrar muito dele, a cada vitória do Stud Quintella, no preparo perfeito do Luiz Guilherme Feijó Ulloa e na tocada bonita do Carlos Geovani Lavor.

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