sábado, 16 de maio de 2009


GP São Paulo, tão saboroso quanto o filé do Moraes

Domingo é dia de Grande Prêmio São Paulo. As tribunas do belíssimo Hipódromo de Cidade Jardim vão estar superlotadas com a presença de turfistas entusiasmados. Na raia, os melhores puros-sangues do país irão travar luta titânica pela conquista da maior prova do turfe bandeirante. Há alguns anos, devido aos compromissos profissionais com a TV Turfe aqui no Rio, só tenho acompanhado as provas paulistas pelo simulcasting. Portanto, costumo dividir os Grandes Prêmios São Paulo em dois grupos, os que foram presenciados, ao vivo, e aqueles que foram acompanhados, na televisão. Os mais interessantes, sem dúvida, foram nos meus primeiros passos turfísticos, ainda garoto, pegando o ônibus da Viação Cometa, na meia noite de sexta-feira, para amanhecer em São Paulo, e correr para o prado e viver o clima dos treinos matinais.

Lembro-me de um Grande Prêmio São Paulo inesquecível. A vitória foi de Cisplatine, craque fantástica da Fazenda Mondesir. Conduzida por Gonçalino Feijó de Almeida, o Goncinha, que havia ganhado no ano anterior, com a não menos craque Bretagne, da mesma coudelaria. A nossa delegação era pequena, mas entusiasmada. Além de mim, embarcaram no Cometa, os saudosos turfistas, Albino Pinto Resende, o cronista Gil Moniz Viana e o Mauro de Faria, hoje comentarista das provas paulistas na TV Turfe. Albino trabalhava em cartório e sem dúvida era o mais bem remunerado do elenco. Os outros três eram jornalistas e tinham que dar cambalhotas para gastar dinheiro extra.

Hospedamos-nos no Hotel Luz, na Praça Júlio Mesquita, e pegamos um taxi para o hipódromo. Gil Moniz, veterano jornalista da Última Hora, conhecia vários jóqueis e treinadores e pegou algumas barbadas. Albino, o cara mais calmo que já conheci, anotava as dicas pacientemente no programa oficial. Eu e Mauro estávamos no Jornal do Brasil, mas sem compromisso de cobrir o evento, que ficou a cargo da sucursal. Albino fez questão de almoçar no Filé do Moraes, restaurante bem perto do hotel, que servia um filé gigantesco, com agrião e batatas cozidas. A carne desmanchava na boca. Embalados pelo belo almoço na conta do Albino partimos para o hipódromo. Dia de sábado era o primeiro round. Em caso de triunfo tudo ficava mais fácil para o dia seguinte. Gil Moniz optou pela cerveja e preocupou-se pouco com as apostas. Albino estava inspirado e seu temperamento tranqüilo ajudava na hora de apostar. Eu e Mauro só estávamos preocupados em ter capital suficiente para jogar em Cisplatine, no dia seguinte. Escapamos ilesos. Quando acordamos, as páginas dos jornais de domingo eram generosas com a cobertura do evento. Outros tempos, outros dias. O peruano Lutz, ganhador do Latino-americano, era considerado o favorito. Entrevistas de jóqueis e treinadores e havia até uma matéria, de canto de página, que relembrava o triunfo de Bretagne no ano anterior e sugeria que Cisplatine teria pela frente o mesmo desafio. Neste dia não teve Filé do Moraes. Chegamos ao prado cedo. Havia a coxa-creme, um salgado fantástico na social que correspondia a uma refeição.

Dada a largada, e nos posicionamos no alto da Tribuna de Profissionais, perto do locutor oficial. O páreo estava repleto de concorrentes, mas o Goncinha manteve Cisplatine da 17ª colocação. Mauro de Faria estava sem binóculo e pedia para mim, de posse do meu possante Bushnell, que acompanhasse todo o percurso da égua. Lembro-me que nos 800 metros finais, quando o locutor oficial falou o nome dela pela primeira vez, na 13ª posição, me virei para o Mauro e disse: ‘Ela vem de galope. É impossível “perder”. O locutor, sem interromper a transmissão, nos olhou como se fossemos dois loucos delirantes.

Foram seis animais para a fotografia e nenhum turfista de São Paulo conseguia entender por que eu e Mauro de Faria pulávamos com as pules de Cisplatine nas mãos. Um “turfista local falou: Este fotochart está duro’. Mas nós conhecíamos como ninguém, a posição do Goncinha, com o chicote guardado, de baixo do braço, e fazendo posição. Nenhum dos turfistas cariocas presentes ao prado paulista estava em dúvida. E de fato. A tão esperada revelação mostrou, por fora de todos, Cisplatine com meia cabeça de vantagem e seu jóquei tranqüilo, com o chicote guardado.

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