quarta-feira, 10 de junho de 2009







Turfistas, um bando de loucos pela mesma paixão!

Ser turfista é um estado de espírito. E, ao mesmo tempo, um caso de amor com os cavalos e as corridas. Ser turfista é enfrentar preconceito, desconfiança e inveja. Preconceito por que alguns pensam que turfe é apenas jogo de azar. Santa ignorância. Desconfiança por que outros tantos acham que podemos desencaminhar e levar a perdição um membro de sua família que se aproxime de nós. Não temos esta intenção e nem esse poder. E inveja, principalmente, por não possuir esta nossa capacidade de amar de forma desinteressada um esporte belo, altivo e imponente. O turfista é independente, confiante e generoso. São qualidades raras, e que por isso, sofrem permanente discriminação.

O turfista se interessa por todos os detalhes de uma corrida. Não gosta de sentir-se preguiçoso. Orgulham-se de estarem sempre bem informados sobre as filiações dos puros-sangues, os seus treinos matinais e também sobre os segredos guardados a sete chaves nas cocheiras. O turfista é passional. Não pode evitar sentir maior afeição por este ou aquele jóquei. De torcer de formar parcial por determinado treinador. E sempre se apaixona por algum cavalo e aposta nele em qualquer circunstância. Até mesmo quando vai enfrentar um páreo acima de sua categoria.

O verdadeiro turfista estuda os páreos durante horas na revista Turfe Brasil, única especializada no país. Alguns gravam os páreos e passam em casa, em slow-motion, para tirar dúvida sobre o percurso de um determinado cavalo. O turfista troca idéias com os colegas para tentar chegar a um denominador comum. Isto é impossível. A concordância é sempre parcial. Existem pontos de divergência inegociáveis. Só a corrida comprovará quem tem razão.

O turfista não joga sem assistir o cânter de apresentação dos cavalos. E alguns, não deixam de ir ao prado, para ver os concorrentes no padoque, antes do páreo, e tirar conclusões importantes sobre o sistema nervoso, a pelagem dos puros-sangues e o comportamento dos proprietários, jóqueis e treinadores. Como se fosse um jogo de pôquer. Observam e decoram os tiques nervosos, cacoetes e trejeitos que denunciam a confiança na corrida do cavalo. O turfista tradicional não dispensa o binóculo, o cronômetro e sempre tem em mãos o programa oficial. Nenhum detalhe pode passar despercebido. Pode ser fatal.

O turfista é mais fiel do que qualquer esportista. Ele enfrenta um calor de 40 graus e um dia de frio de bater o queixo. Nada é mais importante do que manter-se atualizado com sua paixão e vivê-la intensamente. Para ver as corridas de cavalos ele é capaz de suportar várias dificuldades. Banheiros em péssima conservação, funcionários de guichês mal humorados, falta de bares e restaurantes adequados. Enfim, nada é obstáculo para o infinito prazer que lhe proporciona uma bela reta final, com dois cavalos emparelhados, cabeça a cabeça, até a decisão no fotochart. A adrenalina de vencer uma carreira nestas circunstâncias não pode ser atingida em nenhuma outra ocasião.

É claro que quem voa de asa delta vai discordar. O pára-quedista idem. E outras tribos também. Mas só quem faz parte deste bando de loucos apaixonados pelo turfe sabe a emoção que proporciona ver um craque como Itajara correr, e deixar os adversários no meio da reta, ou presenciar um jóquei, como Jorge Ricardo montar, e ganhar páreos sem parar de todas as maneiras possíveis e imagináveis. O turfe, desde antes de Jesus Cristo, é chamado de o esporte dos reis. É não é por acaso.

2 comentários:

carlosales disse...

Belissimo texto M A R.Fiquei arrepiado.Parabens.

carlosales disse...

Desculpe-me Paulo, confundi vc com o Marco Aurélio Ribeiro.Mas o seu texto é lindissimo.Abçs.